Wetlands International convoca uma ação coletiva para prevenir e evitar novos incêndios no Pantanal

04/11/2019
Queimadas RPPN SESC-Pantanal | Foto: Wetlands International
Queimadas RPPN SESC-Pantanal | Foto: Wetlands International

No mês de outubro o grupo de lideranças da Wetlands International se reuniu no Pantanal brasileiro para seu encontro anual. Uma das principais razões para estar lá era ver os primeiros frutos do trabalho do nosso time latino americano e seus parceiros para conservar o maior corredor de zona úmida do continente, alcançando aproximadamente 3.400 quilômetros do Pantanal brasileiro através dos pântanos de Iberá e do delta do Paraná na Argentina.

Assim que deixamos a cidade de Cuiabá e dirigimos para os 100.000 hectares da reserva do SESC Pantanal, a maior reserva particular no Brasil, gerenciada pela instituição nacional sem fins lucrativos que objetiva melhorar a saúde, educação, cultura, lazer e condições de assistência social no Brasil, nós fomos atingidos por uma presença persistente de uma fumaça no ar.

Além dos incêndios na Amazônia

Os incêndios queimaram ao longo de trechos da estrada através das duas horas de viagem a este reconhecido internacionalmente sítio Ramsar e patrimônio da humanidade da UNESCO. Os incêndios têm percorrido o Pantanal desde agosto em uma situação tão séria quanto à da Amazônia [1]. Poucos, entretanto, falam dessa tragédia.

A retirada de vegetação para criar espaço para pastagem de gado através de incêndios não é incomum no Pantanal. Esse ano, entretanto, os incêndios saíram do controle, com a região registrando três vezes mais focos que em 2018. Os incêndios se espalharam por quatro territórios indígenas, a que está em pior condição é a reserva Kadiwéu, que se estende pelos municípios de Porto Murtinho e Bodoquena.

Fatores que contribuíram para os incêndios

Muitos fatores contribuíram para a intensificação dos incêndios. A região esse ano teve um estação seca e quente, cortes nos orçamentos de deixou as agências de monitoramento com poucos recursos para identificar incêndios em tempo real. A redução da brigada de incêndio e a falta de ação emergencial por parte do governo para mobilizar a força do estado, tornaram o controle dos incêndios extremamente difícil. Isso, junto com a ênfase da nova política de desenvolvimento do governo para ampliar as áreas para agricultura e criação de gado, resultou em uma situação preocupante.

De acordo com a chefe de pesquisa e ambiente do SESC Pantanal, Cristina Cuiabalia Neves, os incêndios na região originaram com a queimada de áreas para a abertura de pastos e  agricultura. Embora tenha começado mais tarde comparado a outras regiões no Pantanal, os incêndios dentro da reserva tomaram grandes proporções, atingindo mais de 100.000 hectares.

"Levou 30 dias de trabalho de combate intenso com o time de brigadistas, guarda parques e com o apoio externo do corpo de bombeiros e exército nacional. Infelizmente, nós não conseguimos conter a queimada de 10.000 hectares, mas foi possível preservar outros 100.000 hectares, protegendo a maior parte da reserva. A temporada de seca acaba essa semana com a chegada das primeiras chuvas, mas certamente tem sido uma das temporadas mais severas dentro dos últimos dez anos na história do SESC Pantanal," disse Cuiabalia Neves.

Mas, não é apenas no Pantanal rural que o impacto é sentido. Nas cidades vizinhas, vôos foram cancelados, situações de doenças respiratórias aumentaram e os vulneráveis, jovens e idosos, foram orientados a ficar em casa. O estado do Mato Grosso do Sul declarou no mês passado estado de emergência, não apenas para as áreas rurais, mas para áreas urbanas também.

Trabalhando com as comunidades locais para lidar com os incêndios

Então, o que pode ser feito em relação aos incêndios? Entender a estrutura da terra e macro habitat é chave para a solução. Enquanto 5% do Pantanal está em unidade de conservação [2], até 90% é de propriedade privada, administrada por fazendeiros, enquanto os territórios indígenas totalizam um pouco mais de 1,7%. Isso significa que a conservação da vida selvagem e a administração sustentável da terra depende basicamente de comunidades locais e fazendeiros.

Em nossa visita nós vimos que as práticas de fazendeiros tradicionais podem trabalhar em harmonia com a conservação da fauna e flora local. Eco turismo também traz oportunidade e prosperidade para a região. Mas nós também vimos práticas que tomam pouco atenção para com os valores naturais, resultando na degradação e perda da biodiversidade.

Jane Madgwick, diretora chefe da Wetlands International disse: "O futuro dessa vasta e complexa área úmida, em relação à biodiversidade e à multiplicidade dos papéis de suporte de vida fica a cargo das comunidades locais que moram na região e ao redor. O SESC está fazendo esforços enormes e admiráveis para aumentar a consciência de interconexão entre a natureza, cultura e economia de suas reservas, porém mais suporte é necessário. "

"Os incêndios que nós acabamos de testemunhar parecem sinalizar uma nova e perturbadora atitude em relação ao Pantanal. A qual é cega a sua natureza e a vê somente como terra. Essa única e frágil região pode ser facilmente degradada ou destruída pelo fogo e outras práticas erradas, reduzindo não somente sua biodiversidade, mas junto disso, seu potencial de sustentar uso produtivo a longo prazo. "

Uma carta aberta convocando para uma participação coletiva

A "Declaração de Campo Grande", feita por organizações na região no mês passado, descreveu a situação como uma "tragédia socioambiental de proporções gigantes para a natureza e para o povo". Ressaltou a necessidade da ação coletiva - desde o governo, comunidades locais, fazendeiros e ONGs - para desenvolver planos de gestão conjunta e encorajar a adoção de termos de longo prazo para a restauração ambiental e modelos de prevenção de incêndios.

É nesse espírito que a equipe de líderes da Wetlands International, com competência no gerenciamento de áreas úmidas, prevenção de incêndios e redução de risco de desastre para comunidades, expressa sua preocupação com a situação atual enfrentada pela maior área úmida do mundo. Nós solicitamos que as agências governamentais e comunidades trabalharem juntas a fim de solucionar essa situação.

Por favor, leiam nossa carta aberta para a comunidade internacional abaixo convocando para cooperação e o desenvolvimento de uma ação conjunta necessária para a sustentabilidade da região.