Trabalhando gênero e meio ambiente, Mupan completa 20 anos nessa quinta-feira

20/08/2020

Criação da Organização Não Governamental aconteceu no dia 20 de agosto de 2000 e de lá pra cá ajuda no empoderamento feminino e conservação no Pantanal

Fundação da Mupan na cidade de Pedro Gomes, em 2000 | Foto: acervo Mupan
Fundação da Mupan na cidade de Pedro Gomes, em 2000 | Foto: acervo Mupan

Com objetivo de ampliar a participação das mulheres como agentes multiplicadores no contexto do gênero e do meio ambiente, foi criada a Mupan - Mulheres em Ação no Pantanal, no dia 20 de agosto de 2000. Hoje (20), a organização completa 20 anos de trabalho com projetos socioambientais na região transfronteiriça, no Pantanal.

Como parte de suas ações, a Mupan promove debates, oficinas, formações, entre diversas outras iniciativas e facilita as plataformas e os ambientes de aprendizagem, permitindo que os atores locais promovam e multipliquem os debates relacionados ao gênero e o fortalecimento do papel das mulheres nos espaços de tomada de decisão.

Oficina - futuro, ampliação, planejamento | Foto: acervo Mupan
Oficina - futuro, ampliação, planejamento | Foto: acervo Mupan

Em sua trajetória, a organização já desenvolveu diversos projetos, visando melhorar a qualidade de vida da população pantaneira aliada à conservação do bioma. "A Mupan nasceu durante um evento em Pedro Gomes (MS), no ano de 2000. Salientamos a importância do papel da mulher no dia-a-dia, na vivência do Pantanal, já que por lá tudo está diretamente ligado a água e se pensar núcleo do bioma, não é uma água de qualidade. Isso acaba impactando na lida diária dessa população, dificultando sua qualidade de vida, em especial das mulheres, que na maioria das vezes são responsáveis pelos cuidados da família, saúde e alimento", explica Áurea Garcia, uma das fundadoras e atual diretora-geral da Mupan.

Além de almejar a maior inclusão das mulheres em debates locais nas comunidades, a Mupan busca melhorar e ampliar a participação de mulheres na gestão das águas, já que por vezes essas políticas não atendem as especifidades do papel que a mulher desempenha, seja no dia-a-dia, seja em seu triplo papel na sociedade.

"Em 2007 realizamos um projeto, que, dentre as atividades, havia uma pesquisa sobre a participação das mulheres nos espaços de decisão e discussão da água. Foi constatado que somente 14% de mulheres estavam presentes nesses espaços, como comitês de bacia, conselho estadual de recursos hídricos, entre outros. Enquanto nas atividades locais, coordenação de atividades de projetos essa participação era mais de 80%, uma disparidade", lembra Áurea.

"As mulheres sempre atuaram no contexto socioambiental, mas quase não estão nos espaços de decisão. Com o resultado dessa pesquisa foi construído a Formação Gênero, Água e Educação Ambiental (GAEA), que se tornou referência, e é reconhecido pela ONU Mulheres como boa prática para capacitação em igualdade de gênero", completa.

Formação GAEA | Foto: acervo Mupan
Formação GAEA | Foto: acervo Mupan

Hoje em dia a situação melhorou, mas ainda não é de equidade: 32% das vagas para gestão ambiental em Mato Grosso do Sul está ocupado por mulheres.

Associadas

Muitas mulheres fazem parte da , que atualmente conta com 44 membros em vários municípios da Bacia do Alto Paraguai, no Pantanal, em outros estados do Brasil e até mesmo em outros países. Algumas delas estão desde o início de sua história, ajudando em sua fundação, outras acompanham seus trabalhos de perto e vieram a se associar com o passar do tempo e ainda há as mais jovens, que conheceram e se associaram a organização nos últimos anos.

A engenheira agrônoma Jocineide Farias Chaves é uma das fundadoras e já esteve em cargos da direção. Foi ela que organizou o evento que culminou na criação da ONG. "Eu era Secretária do Meio Ambiente do município de Pedro Gomes. Recebi todo o pessoal aqui no município e apoiei toda a mobilização. Tenho muito orgulho de ter participado deste momento", afirma.

Reunião da diretoria em Pedro Gomes, 2000 | Foto: acervo Mupan
Reunião da diretoria em Pedro Gomes, 2000 | Foto: acervo Mupan

Já a bióloga Wanda Faleiros começou como voluntária e há cerca de 8 anos se efetivou. "É imprescindível ter uma organização como a Mupan no Pantanal, que é um dos mais importantes biomas do país e, por conta da degradação ambiental que acontece em nosso país, é essencial trabalharmos em sua conservação. Antes as opiniões e ações das mulheres não eram valorizadas, a Mupan se mostrou capaz", avalia.

Quem tem raízes no Pantanal também ressalta a importância do trabalho desenvolvido pela Mupan, como a geógrafa e professora aposentada da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Icléia Vargas. Ela conta que ouvia da avó paterna histórias pantaneiras onde mulheres eram protagonistas.

"Desde criança eu percebia o protagonismo feminino na região, mas quando comecei as pesquisas vi que a mulher era invisibilizada. Fui percebendo essa contradição e se não estivéssemos nesses espaços somente os homens iriam permanecer, sendo que o trabalho da mulher sempre foi fundamental, seja no acolhimento, cuidados, preservação, muitas tocavam suas fazendas sozinhas, hoje até são apontadas como ícones, mas também há a mulher ribeirinha, empregadas domésticas, as que trabalham no turismo, grande parte dos profissionais atuantes no Pantanal são mulheres. Por isso que um trabalho como o da Mupan se faz tão necessário, para dar voz e visibilidade a essas mulheres", acredita ela, que acompanha a organização desde o início e veio a se tornar membro em 2018.

E nos dias atuais até as mais jovens se interessa pela organização, como a engenheira ambiental Josiane Barbosa, que chegou até a Mupan por meio de um projeto de extensão em parceria com a UFMS. "O que me chamou a atenção foi a questão da água, meu interesse sempre foi recursos hídricos. Acho importante nós jovens participarmos das questões ambientais e dentro da Mupan temos a colaboração de pessoas mais experientes, que dão suporte para lidar com as questões emergentes", pondera.

Para conhecer mais da história e projetos desenvolvidos pela Mupan acesse nosso site.