Mupan lança relatório com resultados do programa Mulheres 2030 no Brasil

03/07/2020

Oficinas sobre ODSs sensíveis a gênero chegaram a cerca de 370 pessoas

Com objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável do mundo até 2030, impulsionada pelas Nações Unidas, e acordado por Chefes de Estado e Governos em setembro de 2015, foi criada a Agenda2030. Para que isso seja possível, foi implementado o Programa Mulheres2030, um programa global para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sensíveis a gênero em níveis local e nacional, para que se atinja o desenvolvimento sustentável de maneira equitativa, inclusiva e ambiental.

No Brasil, a Mupan - Mulheres em Ação no Pantanal, fez a articulação dessa agenda e realizou a "Oficina Nacional de ODS Sensíveis a Gênero" na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em setembro de 2017, que foi incorporada pela Wetlands International Brasil, no marco do Programa Corredor Azul, que buscou alcançar lideranças e suas comunidades urbanas e rurais - indígenas, quilombolas, fronteiriças, litorânea, agricultura familiar, economia solidária, entre outras. Nesta sexta-feira (3 de julho) o relatório sobre essa agenda, em toda sua proporção, foi lançado no site da instituição.

"A Mupan ao longo dos anos, busca trazer para o contexto local essas agendas internacionais, sempre trabalhou com facilitadora de processos, dentre elas essa, voltada a gênero, em linha com a gênese institucional, a qual busca ampliar o protagonismo de lideranças, principalmente de mulheres nos processos decisórios e também em relação à água", afirma Áurea Garcia, Diretora Geral da organização.

Participaram dessa oficina várias lideranças, dentre elas representantes do Grupo de Educadores Ambientais sem Fronteiras (Geasf), Centro de Trabalhadores da Economia Solidária (CTES), Instituto de Apoio e Proteção a Pesquisa, Educação e Cultura (IAPECC), Associação Movimento Mãe Águia e Centro de Mulheres do Cabo (CMC), instituição sediada em Pernambuco.

Assim, diversas mulheres de variados grupos e regiões, refletiram sobre igualdade e equidade de gênero nos mais diversos contextos, bem como formas de inserir ou fortalecer as suas práticas locais. "A Agenda2030 é um instrumento internacional que compromete os governos nacionais a fazer mudanças em suas políticas para avançar em direção à igualdade de gênero com respeito aos direitos humanos e à dignidade de homens, mulheres e crianças de todas as classes sociais, grupos étnicos, castas e LGBTQI+. Ela reivindica a igualdade de gênero não apenas como um direito humano fundamental, mas como uma base necessária para alcançar um mundo pacífico, próspero e sustentável", explica Juana Vera Delgado, especialista sênior em gênero da Global Forest Coalition (GFC) e assistente do programa Women2030.

Após essa capacitação, as participantes tinham que continuar multiplicando o conhecimento ali adquirido, assim novas oficinas foram ministradas pelas cinco instituições. Aproximadamente 370 pessoas, dessas 197 mulheres, estiveram nessas oficinas, que começaram a ser ministradas no fim de 2019 e foram até o início deste ano.

Em Campo Grande, no fim de fevereiro, cerca de 30 mulheres participaram da capacitação ministrada pelo CTES. 25 mulheres, de 9 municípios de Mato Grosso do Sul estiveram presentes.

"Nós, como Economia Solidária, já temos o compromisso com o bem viver e com o planeta, o que nos aproxima dos ODS. Repassar este conhecimento para mulheres vai ao encontro do ODS 5 - igualdade de gênero. Aprofundar em questões sensíveis a gênero é essencial porque ainda há muito preconceito com a força de trabalho da mulher, então se torna algo urgente a ser debatido", afirma a facilitadora Sebastiana Almire de Jesus (Tiana), coordenadora do Fórum Estadual de Economia Solidária.

E não foi só por aqui que as oficinas continuaram. Na cidade de Cabo de Santo Agostinho (PE), tendo o CMC como facilitador, também aconteceu a capacitação, que iniciou no fim de 2019. "Foi muito interessante trabalhar esse tema com as mulheres aqui. Algumas já conheciam os ODSs, mas não tinham tido contato ainda com os objetivos voltados a gênero. Assim pudemos olhar para além do ODS 5, fomos para todas as áreas de desenvolvimento, mas olhando as questões das mulheres, como elas estão em todas áreas, pensando em nossa realidade e como melhorá-la", conta Nivete Azevedo, coordenadora do CMC.

Por lá, elas ainda pretendem continuar trabalhando com a Agenda2030. "Após um ciclo de debates sobre o desenvolvimento de estratégias para implantar os ODSs em nível local, nós criamos comitê para propor projetos, pensar em orçamento público, planos de desenvolvimento. Vou trazer para este comitê as mulheres que participaram da oficina comigo", pontua Nivete. Os trabalhos do comitê tiveram que ser interrompidos por causa da pandemia, mas serão retomados depois que esse período passar.

Juana vê com otimismo a proporção que a agenda está tomando. "É muito interessante como as organizações da sociedade civil, movimentos feministas, comunidades indígenas e jovens estão resistindo e se organizando para continuar construindo um Brasil diferente", avalia.

Ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade de gênero, não apenas porque é as reformas institucionais são lentas, mas também porque as desigualdades de gênero estão entrelaçadas com outras injustiças profundamente enraizadas nas práticas coloniais, baseadas no patriarcado, exploração do trabalho (especialmente feminina), exploração ilimitada dos recursos naturais e acumulação (de riqueza e poder) pela disposição de bens materiais e identidade dos povos. "Isso significa que, para alcançar a justiça de gênero, não são necessárias mudanças nas leis, mas sobretudo mudanças nos modelos de produção e consumo, bem como nas atitudes de cada pessoa e da sociedade como um todo", acredita Juana.

O acesso ao relatório pode ser feito AQUI.

Programa Mulheres2030

O Programa Mulheres2030 está sendo viabilizado a partir de um consórcio entre a Aliança do Gênero e da Água (GWA - Gender and Water Alliance), a Coalização Global pelas Florestas (GFC - Global Forest Coalition), as Mulheres Envolvidas com o Futuro Comum (WECF - Women Engage for a Common Future), os Princípios de Empoderamento de Mulheres (WEP - Women's Empowerment Principles); e o Fórum Ásia-Pacífico sobre Mulheres, Direito e Desenvolvimento (APWLD - Asia Pacific Forum on Women, Law and Development), o qual conta com apoio da Comissão Europeia.

Envolve 52 países em todos os continentes, sendo que na América Latina são: Bolívia, Paraguai, Chile, Colômbia, Panamá e México, além do Brasil, que tem a Mupan como instituição articuladora.

O objetivo do programa Mulheres2030 é avançar nos processos de desenvolvimento sustentável local e regional, equitativo, inclusivo e ambiental, desenvolvendo a capacidade das organizações da sociedade civil de mulheres e envolvê-las nos processos políticos do Acordo climático de Paris e Agenda 2030. Para atingir esses objetivos, há a facilitação e a participação no desenvolvimento e monitoramento de políticas, mobilização e o compartilhamento das melhores práticas.

Wetlands International e Agenda2030

As áreas úmidas ligam e regulam a água em nossas paisagens, das montanhas até o mar. Agem como fontes de água, são purificadoras, protegem nossas costas, ajudam a fazer cidades e comunidades seguras e resilientes, além de ajudar na recuperação de desastres naturais e causados pelo homem. Também são as áreas que mais estocam carbono da Terra e vitais para reverter a degradação da terra e desertificação. Ainda são centros de crescimento econômico e os motores da economia local, fontes de alimentos e peixes abundantes e água potável, como o Pantanal para o Brasil, Bolívia e Paraguai.

Como prioridade, a Wetlands International elegeu alguns ODSs para trabalhar. São eles: ODS 2 "Fome Zero e Agricultura Sustentável"; ODS 6 "Água Potável e Saneamento"; ODS11 "Cidades e Comunidades Sustentáveis"; ODS 12 Consumo e Produção Responsáveis; ODS 13 "Ação Contra a Mudança Global do Clima"; ODS 14 "Vida na Água"; e ODS 15 "Vida Terrestre".