Rio Bento Gomes é atingido por sedimentos de mineração em Mato Grosso

07/02/2019

O rio abastece a cidade de Poconé, as análises da água e dos sedimentos ainda não foram divulgadas pela Secretaria de Meio Ambiente do MT

Por Leandro Barbosa

Equipes dos órgãos de meio ambiente sobrevoam rio para identificar vazamento — Foto: Prefeitura de Poconé
Equipes dos órgãos de meio ambiente sobrevoam rio para identificar vazamento — Foto: Prefeitura de Poconé

O Córrego Areão, em Poconé, a 104km de Cuiabá (MT), foi atingido, no dia 23 de janeiro, por vazamentos localizados em dois taludes, um onde eram armazenados rejeitos de garimpo e outro de tanque de piscicultura. Os sedimentos provenientes destes vazamentos foram levados ao Rio Bento Gomes, manancial de abastecimento da cidade. Diante disso, é importante se atentar que os rejeitos produzidos em garimpos podem conter metais pesados e danosos à saúde, como: arsênio, cádmio, cromo e mercúrio.

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente - SEMA afirmou, por meio de nota, no dia 29 de janeiro, que a água da cidade não está contaminada, mesmo sem o resultado das análises laboratoriais da água e dos sedimentos - até o momento, nenhum dado foi apresentado. Os vazamentos identificados foram sanados, segundo o órgão, mas o Rio Bento Gomes segue com coloração incomum devido aos sedimentos que ainda permanecem. Diante disso, peritos contratados pela SEMA continuam investigando a situação, a fim de descobrir outros locais de vazamentos na região. Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso e do Instituto Nacional de Áreas Úmidas também também estão cooperando, na expectativa de sanar o quanto antes a poluição do rio.

A situação é grave, uma vez que a cidade não possui um plano de emergência para solucionar problemas derivados de desastres ou crimes ambientais, como os que ocorreram em Mariana e Brumadinho, por exemplo. Os sedimentos liberados no Rio Bento Gomes podem influenciar no processo de tratamento da água e, consequentemente, no sistema de abastecimento público. Além disso, pode interferir na dinâmica fluvial, promover o assoreamento do curso d'água e prejudicar os ambientes aquáticos nas áreas de inundação do rio.

Mato Grosso possui 31 barragens corretamente registradas na Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), oito delas estão em Poconé e são classificadas em risco médio com danos potenciais alto e médio. Além das barragens registradas, existem outras 31 mapeadas - 23 delas em Poconé -, mas sem as informações exigidas pela PNSB. Com isso, a classificação de dano e risco potencial não pôde ser mensurada.

A atividade garimpeira altera o solo e subsolo e atinge lençóis freáticos do território utilizado, além dos riscos que apresenta pela utilização do mercúrio utilizado na extração do ouro. Sendo assim, a quantidade de barragens sem o devido acompanhamento e atenção das autoridades em Poconé pode colocar a população do município em risco e causar danos imensuráveis ao meio ambiente, uma vez que a cidade é um dos berços do Pantanal mato-grossense - bioma com aproximadamente 180 rios, 3.500 espécies de planta e com uma das faunas mais ricas do continente sul-americano.

A poluição do Rio Bento Gomes ocorreu dois dias antes do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, situação que demonstra, mais uma vez, a urgência de discutir e repensar os processos de mineração no Brasil.