Proposta de realização de uma Reunião Ministerial de Áreas Úmidas na COP30 do Clima da ONU

À medida que governos e negociadores se preparam para a COP30 da UNFCCC, em Belém, no Pará, a Wetlands International propõe a realização de uma Reunião Ministerial de alto nível sobre áreas úmidas durante a COP30. A iniciativa segue a COP15 da Convenção sobre as Áreas Úmidas, realizada em Victoria Falls em julho, na qual mais de 170 países se comprometeram a acelerar as ações em prol das áreas úmidas. A Reunião Ministerial na COP30 elevaria ainda mais o papel crítico de áreas úmidas saudáveis para alcançar não apenas as metas globais de mitigação e adaptação climática, mas também as de biodiversidade, segurança hídrica e alimentar, e desenvolvimento sustentável, além de ajudar a acelerar o investimento e as ações para proteger e restaurar as áreas úmidas para as pessoas, a natureza e o clima.
Áreas úmidas são essenciais para combater a crise climática, mas são negligenciadas nas estratégias
O mundo não conseguirá cumprir suas metas nacionais e globais de mitigação e adaptação climática sem ampliar os esforços para proteger, restaurar e usar de forma sustentável as áreas úmidas, de rios a recifes, lagos a lagoas, brejos a turfeiras, e de pântanos a manguezais.
As áreas úmidas saudáveis estão entre as soluções naturais mais eficazes contra a crise climática. As turfeiras, sozinhas, armazenam 30% do carbono terrestre, enquanto planícies aluviais, manguezais e outras áreas úmidas saudáveis reduzem riscos de desastres e protegem comunidades e cidades contra os impactos crescentes da mudança do clima, como enchentes extremas, secas, marés de tempestade e elevação do nível do mar.
Além disso, as áreas úmidas fornecem quase toda a água doce do planeta, sustentam mais de 30% da produção global de alimentos e abrigam 40% de todas as espécies da Terra.
Entretanto, o Panorama Global das Áreas Úmidas 2025 mostra que já perdemos 22% das áreas úmidas remanescentes desde 1970 e seguimos destruindo esses ecossistemas em ritmo alarmante. É urgente reverter essa tendência para alcançar os objetivos do Acordo de Paris, mas as áreas úmidas permanecem em grande parte negligenciadas nas estratégias nacionais e globais de mitigação e adaptação, e no financiamento climático. Poucos países as mencionam em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) ou em seus Planos Nacionais de Adaptação (NAPs), com apenas 29% dos países incluindo as áreas úmidas em suas estratégias climáticas.
Uma Reunião Ministerial sobre Áreas Úmidas na COP30 dará impulso e acelerará a ação climática
O mundo começa a reconhecer a importância da água e das áreas úmidas como soluções climáticas. Iniciativas globais voluntárias – como o Mangrove Breakthrough, o Peatland Breakthrough e o Freshwater Challenge (liderado por países) – vêm ganhando força à medida que governos, empresas, investidores, ONGs e comunidades reconhecem a urgência de colaborar, ampliar investimentos e acelerar a proteção, restauração e uso sustentável das áreas úmidas.
É fundamental consolidar esse movimento, fortalecendo sinergias entre as Convenções do Rio (UNFCCC, UNCBD e UNCCD), os ODS e a Convenção de Áreas Úmidas, que oferecem uma oportunidade única de ação integrada.
O que a Reunião Ministerial de Áreas Úmidas na COP30 entregaria
Com base nos avanços da COP15 da Convenção de Áreas Úmidas e nos resultados sobre áreas úmidas nas COP28 e COP29, e em alinhamento com o Eixo 2 da Agenda de Ação da Presidência da COP30 (Proteção de Florestas, Oceanos e Biodiversidade), uma Ministerial de Áreas Úmidas poderia:
- Oferecer uma plataforma de alto nível para mostrar como áreas úmidas saudáveis contribuem para metas de mitigação e adaptação, ao mesmo tempo em que garantem benefícios diversos e insubstituíveis às pessoas, especialmente Povos Indígenas e Comunidades Locais – desde a segurança hídrica e alimentar até a geração de meios de vida e promoção do desenvolvimento sustentável;
- Favorecer a inclusão de ações com áreas úmidas em NDCs, NAPs e estruturas de financiamento climático, criando sinergias entre as Convenções do Rio, ODS e Convenção de Áreas Úmidas;
- Permitir que Ministros de clima, água, meio ambiente e finanças deem visibilidade às ações nacionais e internacionais já em curso sobre áreas úmidas, compartilhando casos de sucesso;
- Reunir as Partes Contratantes em um evento de alto perfil, destacando compromissos de proteção e restauração de áreas úmidas – inclusive via NDCs, NAPs e mecanismos de financiamento climático – além de iniciativas voluntárias globais específicas para áreas úmidas, como o Freshwater Challenge, o Mangrove Breakthrough e o Peatland Breakthrough (em desenvolvimento com os UN High Level Champions e alinhado à Parceria de Marrakech);
- Explorar mecanismos de salvaguarda para minimizar impactos negativos da ação climática sobre as áreas úmidas, assegurando uma transição energética positiva para a natureza e resiliente à água;
- Reforçar a chamada por mais recursos e mecanismos inovadores de financiamento para apoiar as Partes na proteção e restauração das áreas úmidas, garantindo o alcance das metas climáticas nacionais de mitigação e adaptação.
Nós pedimos que todos os governos, especialmente o Brasil, a defender esta Reunião Ministerial sobre Áreas Úmidas na COP30
Na qualidade de Presidente da COP30 e como país que abriga áreas úmidas icônicas, incluindo a Amazônia, maior sistema fluvial do planeta, e o Pantanal, maior área úmida tropical do mundo – o Brasil tem uma posição única para elevar as áreas úmidas ao centro da agenda climática global.
O evento se alinha diretamente ao Eixo 2 da Agenda de Ação da Presidência da COP30 e reflete o compromisso do Brasil com soluções baseadas na natureza, resiliência climática e desenvolvimento inclusivo.
Essa Reunião Ministerial também se basearia na Declaração da Água de Baku e na Agenda de Ação de Riyadh, e marcaria um passo significativo no caminho para a Conferência da Água da ONU em 2026.
O mundo não pode mais se dar ao luxo de ignorar as áreas úmidas. Elas são essenciais para a mitigação e a adaptação climática. Esta Reunião Ministerial de alto perfil em Belém garantiria que as áreas úmidas sejam uma prioridade da COP30 e de eventos futuros, e que sejam ativamente integradas às soluções para as pessoas, a natureza e o clima.
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