Oficina de PGTA Kadiwéu avança com forte participação comunitária

Oficina fortalece participação comunitária na atualização do Plano de Vida, agora PGTA Ejiwajegui, em Porto Murtinho (MS)
Entre os dias 10 e 13 de junho, a Aldeia Alves de Barros, no Território Indígena Kadiwéu, município de Porto Murtinho (MS), recebeu uma nova etapa de trabalho coletivo para revisão e atualização do Plano de Gestão do povo Kadiwéu. A ação integra o processo de construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kadiwéu e faz parte das atividades de campo do Programa Corredor Azul (PCA), iniciativa desenvolvida pela Wetlands International Brasil e pela Mupan – Mulheres em Ação no Pantanal.
O PGTA é um instrumento de gestão territorial e ambiental que expressa as prioridades, demandas e estratégias definidas pela própria comunidade Kadiwéu, com o objetivo de fortalecer a governança interna e melhorar o diálogo com órgãos públicos e parceiros externos. Sua construção segue as etapas e diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), um marco importante para os povos indígenas no Brasil.
O processo de elaboração do Instrumento de Gestão, inicialmente denominado Plano de Vida Kadiwéu começou em 2018, com base nos resultados de etnomapeamentos e planificações realizadas junto às aldeias Alves de Barros, Campina, Barro Preto, Tomázia e São João. Desde então, o documento vem sendo tratado como um material vivo, passível de revisões sempre que a comunidade julgar necessário.
Quatro dias de oficinas temáticas
A oficina de junho foi facilitada por integrantes da Mupan e da Wetlands International Brasil, com apoio da Funai. Hermes Oliveira, da Coordenação-Geral de Gestão Ambiental e Territorial da Funai (Brasília), e Elvis Terena, coordenador regional da Funai em Mato Grosso do Sul, estiveram presentes, contribuindo com a mediação de conteúdos e ampliando os diálogos institucionais.
Durante quatro dias, a comunidade se reuniu para revisar ações previstas no Plano de Vida e aprofundar o entendimento sobre os instrumentos de gestão territorial, como o PGTA e o etnozoneamento. Houve um esforço coletivo para organizar as discussões por temas específicos, como saúde, educação, cultura, meio ambiente, fogo, água, juventude, território, agricultura e pecuária, comunicação, turismo, esporte e relações institucionais.
Cada grupo de trabalho teve a oportunidade de apresentar suas propostas para atualização do Plano, promovendo o alinhamento entre as diferentes aldeias e fortalecendo o sentimento de corresponsabilidade sobre o futuro do território.

Comissão e comunicação ganham força
Um dos encaminhamentos significativos da oficina foi o reconhecimento, pela própria comunidade Kadiwéu, da importância de estruturar melhor sua comunicação estratégica. Durante as discussões, surgiu a proposta, vinda dos próprios participantes, de incluir no Plano de Gestão um capítulo específico sobre Comunicação. O objetivo é fortalecer a visibilidade das pautas indígenas e ampliar os canais de diálogo com parceiros institucionais.
Além disso, a equipe de comunicação da Mupan e Wetlands International Brasil conduziu um momento formativo sobre a importância da produção de registros visuais e da construção de narrativas próprias pelos povos indígenas.
Outro avanço importante foi o início de uma mobilização interna para a criação de uma Comissão Indígena Kadiwéu, com representantes de diferentes áreas de interesse da comunidade. Essa iniciativa tem o objetivo de garantir maior representatividade política e autonomia nos diálogos institucionais.
Etnozoneamento e próximos passos
A oficina também marcou o início das atividades práticas de etnozoneamento, uma das etapas fundamentais para o PGTA. Facilitados por Josiel Oliveira, do Instituto Terra Brasilis, e por Lilian Pereira, coordenadora do Componente Modos de Vida e integrante da diretoria da Mupan, os participantes produziram mapas desenhados à mão, identificando as diferentes zonas de uso e interesse no território.
Os materiais elaborados – incluindo os mapas, tabelas temáticas e registros das apresentações em papel A0 – foram levados para sistematização pela equipe técnica, que dará sequência às próximas fases do processo: a digitalização dos dados, o início do geoprocessamento das informações e a futura validação comunitária das propostas por aldeia.
Caminho coletivo
A construção do PGTA Kadiwéu é um processo contínuo e orientado pelo protagonismo indígena, em sintonia com os princípios da PNGATI. A atuação conjunta entre lideranças Kadiwéu, Funai, Mupan e Wetlands International Brasil, no âmbito do Programa Corredor Azul, segue como base para fortalecer a autonomia e a governança do povo Kadiwéu sobre seu território.