Em live do Portal Bicentenário, Mupan aborda a importância do protagonismo feminino no Pantanal
Live "Mulheres no ritmo das águas pantaneiras" celebra Mês das Mulheres e o Dia da Água, comemorado no dia 22 de março, com debate voltado ao protagonismo feminino no Pantanal.
"E resta-nos a certeza, para ser mulher no Pantanal, é preciso ser onça". Mencionada durante a transmissão da live "Mulheres no ritmo das águas pantaneiras", do Portal do Bicentenário, esta é a frase que sintetiza os desafios e a importância do papel feminino dentro da maior área úmida de água doce do planeta. Realidade essa que foi pontuada pelas associadas da Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal) ao longo do evento realizado na última quinta-feira (22). A live, na íntegra, pode ser vista aqui.
Algumas perguntas que vão desde "Como é ser mulher no Pantanal?" até "Qual o papel que a mulher exerce na vida local e no desenvolvimento sustentável do bioma?"permeiam o imaginário da sociedade e também têm sido objeto de atenção da Mupan. A instituição atua há 23 anos e tem centrado seu trabalho na inserção da questão de gênero para a gestão da água dentro do Pantanal. As mulheres estão entre as principais agentes de promoção à conservação das riquezas naturais deste território.
Na live, a diretora geral Mupan, Áurea Garcia, apresentou um pouco da história da organização não-governamental e do crescimento do protagonismo da mulher frente aos ambientes de debates e gestão.
De acordo com Áurea Garcia, em 2007, uma pesquisa pontuou que 15% dos cargos de representantes nos espaços de discussão eram ocupados por mulheres e, no ano de 2020, esse número já era 30%.
Para a pesquisadora, é necessária a união entre as instituições para que esse quadro evolua ainda mais. "Enquanto organização não-governamental, a Mupan foi acolhida em um projeto de extensão, a formação GAEA, que foi reconhecida pela ONU Mulheres como uma capacitação para a igualdade de gênero como uma boa prática. De 2013 a 2016, desenvolvemos mais de 150 lideranças e um alcance de cerca de mil pessoas, com uma pesquisa ativa e um potencial de replicação".
Os números reforçam o quanto o trabalho em conjunto pode dar força para que mulheres sintam-se cada vez mais empoderadas para legislar tanto em causa própria, quanto em pautas emergenciais, como a questão das mudanças climáticas, por exemplo. Desde 2020, a Mupan tem atuado junto a outras quatro instituições Wetlands International Brasil, Polo Socioambiental Sesc Pantanal, CPP Pantanal e INAU/UFMT.
"Estamos trabalhando com as mulheres na linha de restauração. Com os incêndios de 2020, ampliamos de 23 hectares para 46 hectares a nossa meta de recuperação de áreas dentro da maior reserva particular do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal, com 108 mil hectares. Trata-se da Iniciativa AquaREla Pantanal que, no seu corpo de trabalho, conta com mulheres na maioria das atuações. No primeiro processo de seleção, das 10 pessoas escolhidas, 9 eram mulheres. São elas as grandes protagonistas na gestão dos nossos dois viveiros de mudas de espécies nativas do Pantanal. Os viveiros foram implantados em duas comunidades: Capão do Angico, que fica em Poconé, e São Pedro de Joselândia, na cidade de Barão de Melgaço", explica Áurea.
E são mulheres que têm dedicado parte de suas vidas para que o Pantanal continue existindo. Docente da UFMS e associada da Mupan, Mara Aline Ribeiro, chama carinhosamente estas mulheres de "Marias".
"Quem são as Marias do Pantanal? Independente do poder aquisitivo, são provedoras das famílias, chefes de comitivas, esposas, companheiras, cuidadoras do (as) filhos (as), empresárias do turismo, cozinheiras, pecuaristas que, entre o amanhecer e o anoitecer, trabalham e se postam convictas do seu papel de protagonistas da manutenção dos produtos pantaneiros no mercado internacional, dinamizando a economia local e exercendo a relevante função de dar luz à maior planície alagada do mundo. As Marias do Pantanal estão em todos os lugares, exercendo os mais distintos e importantes papéis na permanência da região dentro da engrenagem social e econômica mundial, se colocando como a real definição de protagonistas da história pantaneira", afirma.
Icléia Vargas, mediadora dos debates da live, pontua a importância desse ambiente de reflexão que o Portal do Bicentenário propicia. "É uma honra estar aqui dentro desse evento com parceiras de lutas e pesquisas, pois cada uma das pesquisadoras procura explanar sobre as relações das mulheres no ritmo das águas pantaneiras. Águas que são fundamentais para a nossa existência e a manutenção da exuberância do Pantanal".
O evento contou, ainda, com a participação de Ana Paula Correia de Araújo (UFMS), que trouxe como pauta o "Pertencimento e Economia no Pantanal", e Dilza Porto, responsável pela apresentação do Portal do Bicentenário e a recepção das convidadas.